NUM MINUTO
SINTA-SE LÁ
Os caboclos de lança são os guerreiros de Ogum. Descendentes de escravos. Vestem-se com luxo e brilham durante os dias de Carnaval no pequeno município de Nazaré da Mata.
Suas delicadas golas são bordadas de azulejos portugueses. Sua cabeleira de papel celofane colorido brilha ao sol e traz para perto deles seu guia espiritual (amarelo: Oxum; azul: Oxóssi; vermelho: Xangô). Suas lanças reforçam sua natureza de guerreiro. Carregam sinos, grandes e pesados, com o som dos facões dos cortadores de cana.
Essa figura quase mítica é o principal personagem do Maracatu de Baque Solto, festa que nasceu no interior de Pernambuco e tem uma relação muito estreita com a cultura canavieira e com as origens africanas dos brincantes.
Sua sambada é envolvente e encantadora: cheia de saltos, giros, caídas e embates. Dançar e brincar com uma indumentária que pesa cerca de 30kg é sempre um enorme desafio, mas, ao mesmo tempo, uma prova da grande capacidade de superação desse povo guerreiro.
O orgulho de brincar como caboclo é passado de geração em geração: prova da resistência (física e cultural) que mantém a festa tão ativa e vibrante.
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É possível questionar uma tradição e, ao mesmo tempo, reforça-la?
É possível aliar graça e força num mesmo fazer?
O grupo de Maracatu Feminino Coração Nazareno é a prova viva de que que tudo isso é possível sim: um grupo composto exclusivamente por mulheres, que desafia a tradição de que só os homens podem brincar o Carnaval como caboclos de lança do Maracatu Rural.
Exibem, em pequenos detalhes, a vaidade que toda mulher carrega dentro de si. Cuidam umas das outras. Dançam com uma indumentária que pesa mais de 30 kgs e, contrariando as previsões machistas de que não haveria interesse em assistir a apresentações de mulheres, elas têm a agenda lotada e um público sempre numeroso, contribuindo para reforçar a importância dessa tradição local da zona da mata pernambucana.
Assim como os homens, demonstram sinais claros de cansaço após uma maratona de apresentações, mas, também como eles, explodem de orgulho por terem sido capazes de terminar mais uma dança e mais uma apresentação na longa jornada do Carnaval.
Mais do que um discurso contemporâneo de empoderamento feminino, essas mulheres dão um exemplo vivo de como é possível resgatar a união entre ser guerreira e ser feminina.
Tidas como o sexo frágil, elas demonstram às meninas, desde pequenas, que elas podem ser e fazer tudo o que quiserem e sonharem.
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Maracatu Feminino Coração Nazareno
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