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Andrea Goldschmidt

A lenda da viagem de Oxalá


A narrativa do mito das “Águas de Oxalá” inicia-se com Oxalá decidindo fazer uma visita a Xangô (a divindade dos raios e dos trovões).

Como era de costume na terra dos orixás, Oxalá consultou um Bàbálawo para saber como seria a viagem. Apesar dele ter recomendado que a viagem não se realizasse, Oxalá já havia decidido deslocar-se para Òyó, então o bàbálawo lhe disse: "Leve três mudas de roupas brancas, pois Exú irá dificultar seus caminhos". Também aconselhou que ele levasse consigo três panos brancos, limo-da-costa e sabão-da-costa e que aceitasse fazer tudo que lhe pedissem no caminho sem reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma forma de não perder a vida!

Com estas precauções o Orixá pôs-se a caminhar com seu cajado em direção a Òyó. Caminhando pela mata encontrou Exú que tentava levantar um tonel de Dendê nas costas. Exú pediu ajuda e Oxalá prontamente o ajudou. Mas Exú, propositalmente, derramou o dendê sobre Oxalá e saiu. Oxalá banhou-se no rio, trocou de roupa e continuou sua jornada. Mais adiante encontrou-se novamente com Exú, que, desta vez, tentava erguer um saco de carvão nas costas e pediu a Oxalá que lhe auxiliasse. Novamente Oxalá o ajudou e novamente Exú derramou o carvão sobre Oxalá. Oxalá se banhou no rio, trocou de roupa e prosseguiu sua jornada a Oyó. Mais uma vez, encontrou com Exú que agora estava tentado erguer um tonel de melado e a estória se repetiu.

Ao aproximar-se de Òyó, avistou um cavalo branco fugitivo dos estábulos de Xangô e resolveu devolve-lo ao dono. Antes de chegar a cidade, foi abordado pelos guardas que o mal interpretaram e julgaram que ele era o ladrão do animal. Agrediram-no violentamente. Quebraram seus braços e pernas. Oxalá foi levado à prisão do palácio e lá esquecido por sete anos.

Durante este tempo, o reino de Xangô foi assolado por pestes e infortúnios: entrou em decadência, sofrendo a pior seca, que comprometeu toda a colheita. Epidemias, doenças e mortes se sucederam com frequência, fazendo com que o povo se revoltasse com Xangô. Sem outra solução, ele vai procurar um Bàbálawo da região, que faz o jogo e lhe diz: “Um homem que usa roupa branca foi preso injustamente. O que está acontecendo é uma revolta natural pela injustiça cometida. A vida está aprisionada em seus calabouços, como um velho que sofre injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometeu”.

Com essa resposta, Xangô foi até a prisão e lá encontrou Oxalá todo sujo e mal tratado. Imediatamente o levou ao palácio. Chamou todos os Orixás. Cada um carregava um pote com água da mina e, um a um, os Orixás iam derrubando suas águas em Oxalá para lavá-lo. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco e que todos permanecessem em silêncio, pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalá. Xangô vestiu-se também de branco e nas suas costas carregou o velho rei que foi levado para as festas em sua homenagem. Todo o povo saudava Oxaláufã e Xangô.

Depois de desfeito o mal entendido, a chuva chegou, as culturas de alimentos prosperaram e as enfermidades cessaram: todas as coisas do reino de Xangô voltaram à normalidade.


A cerimônia das “Águas de Oxalá” rememora este episódio mítico com uma procissão representando a viagem de Oxalá. Trata-se de um cerimonial complexo que se estende por 17 dias e constitui um marco nas práticas e nos rituais que se sucedem no decorrer do ano litúrgico do candomblé.

Fonte: BENISTE, José. Ás águas de Oxalá: àwon omi Òsàlá e site www.juntosnocandomble.com.br

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