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Andrea Goldschmidt

Afinal de contas, romaria, procissão, folia e cortejo são coisas diferentes?


Anjos em Procissão de Páscoa em Ouro Preto

Quando comecei a fotografar as festas populares brasileiras ficava sempre muito confusa em relação a como chamar cada uma das coisas que estava presenciando... há romarias, procissões, cortejos, folguedo... nunca tinha entendido as diferenças em relação a cada uma destas coisas até que, recentemente, li o livro “Cultura na Rua” de Carlos Rodrigues Brandão, onde há uma explicação super bacana e super clara sobre estas diferenças.

Genericamente, há 6 tipos de celebrações nos ritos católicos:

  1. As missas (novenas ou rezas) são as que acontecem em um lugar sagrado, como uma igreja

  2. As romarias são a busca de um lugar sagrado, são viagens (geralmente longas) que as pessoas fazem ao sair de suas casas tendo como destino um lugar sagrado

  3. As folias são as viagens que acontecem entre lugares não sagrados, mas levando uma mensagem sagrada ou anunciando um festejo religioso que irá acontecer

  4. As procissões são mobilizações mais curtas, através de um lugar (uma cidade, por exemplo), quando a população circula “por perto” com seres simbolicamente sagrados sendo conduzidos por espaços profanos, como um andor adornado com uma imagem de um santo sendo levado pelas ruas de uma cidade

  5. No cortejo, não há andores, são os participantes mesmos que desfilam pelas ruas, revestidos de uma dignidade especial. São os figurantes que tocam, cantam, dançam e se adornam para desempenhar um papel e serem vistos.

  6. Os folguedos são representações itinerantes de uma memória tida como heróica ou religiosa. São ritos ou dramatizações em que, de uma maneira ou de outra, uma intervenção celestial está sempre presente, o que justifica a sua apresentação naquele momento e naquela festa específica.

Algumas festas brasileiras, como a festa do Divino, são compostas por vários tipos de celebração:

Pomba do Divino Espírito Santo em São Luiz do Paraitinga

  1. Durante quase todo o ano, a Folia circula de casa em casa para levar a bandeira do Divino, convidar para a festa e captar donativos.

  2. Durante os dias da festa, acontecem diariamente as missas que formam a novena.

  3. Ao final da missa, os fiéis saem em procissão, quando as bandeiras com as pombas que simbolizam o Divino Espírito Santo circulam pela cidade, antes de serem guardadas novamente na sede do Império.

  4. No domingo, muitos folguedos animam a festa, com grupos de Moçambique e Maracatu dançando pelas ruas, além da representação chamada de Cavalhada, que rememora a vitória dos cristãos sobre os mouros na Europa.​​

  5. A festa conta ainda com uma parte totalmente profana, que é o ritual de servir comida para a população, que teve origem em um evento em que a Rainha prometeu servi comida para o povo se seu filho e seu marido parassem de brigar. O famoso “afogado” é o prato típico da festa e ele é feito com bois e batatas doados pela população durante as visitas da Folia que acontecem o ano todo.

Gostei de compreender melhor a diferença entre cada uma destas formas de celebração. A partir de agora, vou poder escolher com mais segurança o nome apropriado a dar a cada uma das atividades que presencio nas festas populares brasileiras e, de certa maneira, até compreender melhor qual é o objetivo e qual é a simbologia que carregam cada um dos momentos de uma festa popular mais complexa.

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