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Andrea Goldschmidt

Parada LGBT+ em São Paulo


Manifestante na Parada LGBT de São Paulo

Quando resolvi ir fotografar a Parada LGBT+ como parte do meu projeto de registrar as festas populares brasileiras, alguns amigos questionaram se de fato este evento poderia ser considerado uma festa, já que ele tem algumas características que o fazem parecer mais uma passeata, uma espécie de protesto, algo que traz luz a uma causa e ajuda na defesa de direitos de um grupo de cidadãos...

Pensei muito sobre isso e conclui que todas as festas populares têm alguma “causa” que mobiliza as pessoas a irem para as ruas... em geral a causa é religiosa ou patriótica, neste caso, a causa é mais “política”, mas, ainda assim, o evento tem uma impressionante capacidade de reunir pessoas, tem um calendário regular, tem música, tem alegria e, portanto, é sim uma festa popular!

E este ainda é o maior evento do tipo no mundo e, só por isso, já valia a pena ser registrado.

Parada LGBT de São Paulo reune uma multidão na Avenida Paulista

As últimas edições da Parada LGBT+ reuniram, segundo os organizadores, cerca de 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista. Este é o maior evento em geração de renda para a cidade de São Paulo (e o segundo maior do Brasil, perdendo apenas para o Carnaval do RJ), com turistas vindo de todo o Brasil e até de outros países para participar!

Participar da Parada LGBT+ é sempre muito mais tranquilo do que eu mesma imaginava. Claro que qualquer lugar onde estejam 2 milhões de pessoas tem uma tendência de ser um pouco perigoso, mas o clima na Parada (pelo menos até antes do sol se por, quando fui embora) é bastante tranquilo.

As cores do orgulho gay enfeitam a Avenida Paulista

Alguns grupo mais religiosos, especialmente de protestantes, costumam se manifestar contra a passeata, o que, de certa maneira, só aumenta a visibilidade que o evento tem a cada ano!

Outras pessoas criticam a Parada LGBT+ por parecer mais um Carnaval que um evento de defesa de direitos. Mas ela não pode ser as duas coisas? Quero dizer, um evento que reivindica direitos básicos e equidade a um grupo de pessoas não pode ser também uma festa divertida?

O fato de haver muita gente fantasiada, torna a passeata um evento muito interessante e curioso e, mesmo que não está participando ativamente, quem esta ali como “simpatizante” (categoria que não existe mais na sigla do movimento) pode se divertir circulando e observando.

Bandeira com arco iris LGBT pendurada na janela de um edifício na Avenida Paulista

Uma pesquisa realizada durante a edição de 2005 do evento, revelou que 57,6% das pessoas compareciam ao evento para apoiar a causa; 26,7% por curiosidade ou diversão; 8,9% por solidariedade com amigos ou parentes homossexuais; 4,1% para "paquerar"; 1,6% para trabalhar e 1% por outros motivos. Dentre os participantes, 25,9% se declararam heterossexuais.

Organizadores do movimento afirmam que esta é uma data em que sentem que podem sair às ruas bradando: “SOU LGBT E SOU FELIZ! SOU LGBT E SOU LIVRE! SOU LGBT E ME AMO!” e que não se sentem seguros de fazer isso o tempo todo. Que ocasião seria mais oportuna do que essa, que reúne milhões de pessoas com ideais iguais?

Como fotografa, tinha um pouco de receio dos participantes não quererem ser fotografados, afinal, é um evento com um caráter político e não apenas de diversão, mas me surpreendeu ver que as pessoas estavam bem abertas à cessão de sua imagem. Talvez porque o objetivo do evento seja realmente o de divulgar a causa e nada melhor do que imagens circulando (seja na imprensa geral ou em mídias sociais) para gerar visibilidade ao evento.

Um pouco de história

Moça vestida de anjo na Parada LBGT de São Paulo

Em junho de 1969, a polícia de Nova Iorque entra em um bar chamado Stonewall e, com brutalidade, ameaça e insulta seus frequentadores: todos gays e lésbicas.

As chamadas “batidas policiais de rotina” revoltam os frequentadores do bar LGBT que decidem se rebelar e, por quatro dias, formam uma grande resistência contra a polícia reafirmando seu direito de amar. Eles saem em marcha pelas ruas da cidade, brigam, gritam... Um ano depois, mais de dez mil pessoas saem às ruas relembrando a Revolta e reafirmando os direitos homossexuais.

Vinte e oito anos depois, em junho de 1997, a cidade de São Paulo realizou a primeira Parada.

Adultos e crianças participam da Parada LGBT em São Paulo

Originalmente ela foi nomeada Parada Gay, mas como este nome contemplava apenas os homossexuais masculinos (deixando de fora as lésbicas, por exemplo), o nome foi posteriormente alterado para Parada GLS (que fazia referência aos Gays, Lésbicas e Simpatizantes) e mais recentemente para LGBT+ para incluir de forma mais nominal e evidente também os bissexuais e transexuais.

Nesse período muitas lutas foram travadas, avanços aconteceram e com certeza o mundo em que vivemos hoje é um reflexo da maior visibilidade que as Paradas proporcionaram a estes grupos. A existência de alguns direitos que nem poderiam ser imaginados no passado, hoje são possíveis devido à coragem e ao ativismo persistente que o movimento LGBT, com todas as suas diferenças, conseguiu conquistar.

Participantes da Parada LGBT de São Paulo

Segundo o IBGE, em 2013, por exemplo, foram registrados 3.701 casamentos entre pessoas do mesmo sexo, sendo 1.945 só no Estado de São Paulo. A união civil homoafetiva foi liberada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2011, mas os cartórios ainda podiam se recusar a realizar o casamento. Em maio de 2013 esta situação mudou, a partir de uma decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).A idade média dos noivos (e noivas) é bem mais alta do que as dos casais heteroafetivos e dentre todas as pessoas que se casaram neste período, 6% já haviam se casado antes, pelo menos uma vez.

A homofobia ainda mata muito e os preconceitos estão longe de acabar. A luta pelos direitos destas pessoas ainda tem muito o que avançar, o que nos faz acreditar que este tipo de evento ainda vai existir por muito tempo, mesmo que mudem ou evoluam as causas principais pelas quais lutam a cada ano.

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