Com os pés descalços, de roupas brancas e recatadas, sem relógios, brincos, anéis, batom ou qualquer tipo de enfeite, quatro homens (que tocam rabeca, pandeiro, adufo e viola) e duas filas de seis mulheres se reúnem em um terreiro para dançar. São danças de pagamento de promessa.
A promessa feita a São Gonçalo precisa ser paga independentemente da graça ter sido alcançada ou não. O simples fato de faze-la já traz em si a dívida. E não é culpa do Santo se Deus não te achou merecedor da graça!
O pagamento da promessa gera um gasto financeiro alto, já que é responsabilidade do devedor arcar com as despesas de deslocamento e alimentação do grupo de 16 pessoas, além da compra de velas e fogos de artifício que são estourados ao término de cada jornada (com o objetivo de afugentar o demônio com os estrondos).
O número de jornadas a ser dançado depende do acordo previamente feito com o santo: no máximo 12 (de cerca de 30 minutos cada) para cada promessa realizada.
Promessa de vivo e de promessa de morto.
O morto que tem uma promessa não paga, fica em dívida com o santo e, por isso, fica em agonia e sofrimento, além de perturbar os vivos. Se a família não tinha conhecimento da promessa, o morto-devedor se comunica pelos muito canais de comunicação entre vivos e mortos e pede que a dança seja paga.
Assim as pessoas se solidarizam e se auxiliam mutuamente na compra de alimentos e velas. As mulheres contribuem cozinhando. A promessa é paga de forma coletiva, com o esforço e a participação de muita gente na comunidade.
Ninguém se sente perturbado pelo fato de gastar tanto. Ao contrário, isso se revela um prazer. A dança de São Gonçalo, tem o grande papel de manter a sociabilidade entre esse grupo de vizinhança, porque eles formam uma grande família que se reúne por uma causa nobre: o santo.
Os laços de solidariedade são fortalecidos tanto pelo próprio ato de dançar e tocar, quanto pela organização para a feitura da comida e a viabilização do pagamento da promessa.
O grupo de São Gonçalo retratado aqui, dançava em Juazeiro do Norte, durante a Romaria de Finados. Eles vieram de Santa Brígida, no interior da Bahia, para fazer a dança, pagar uma promessa e, ao mesmo tempo, homenagear ao Padre Cícero.
Reza a lenda que São Gonçalo tirava as prostitutas dessa profissão levando-as para dançar. Ele as deixava tão exaustas que as impedia de “praticar seu mister”. Também tocava viola e dançava com elas, alegremente, mas tendo nos sapatos pregos que feriam seus pés para deixar claro que ele não estava se divertindo.