por Lucas Negri
Muitos acham que as celebrações da Semana Farroupilha vêm desde os tempos de Bento Gonçalves e Garibaldi… mas, na verdade, a Festa é bem mais recente.
O ano é 1947. A sociedade brasileira passava por um momento de forte americanização, devido às glórias oriundas da 2a Guerra Mundial. O culto aos hábitos, aos costumes e às tradições locais estava sendo esquecido.
Há um relato (que não consegui confirmar a fonte) que conta que em um chuvoso final de agosto, o jovem João Carlos Paixão Côrtes estava em uma cafeteria e viu uma bandeira do Rio Grande, já meio rota, num canto, servindo como pano pra tapar uma janela. Essa cena causou nele uma profunda decepção e, ao mesmo tempo, o encorajou a fazer algo pelas suas raízes.
Paixão Cortes, assim como muitos de seus colegas do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, eram gaúchos vindos do interior para estudar capital e sentiam muita falta da vivência do campo, do apego às raízes, e às tradições que na leal e valerosa Porto Alegre não existiam de forma tão visível.
Paixão Cortes juntou-se então a outros sete amigos (Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilço Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira) e fundou o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG), junto ao Grêmio Estudantil do colégio onde os 8 estudavam.
O objetivo do DTG era estimular o desenvolvimento cultural na sociedade, principalmente entre os jovens que, como eles, peleava em favor das tradições: da identidade, da essência da terra e da gente gaúcha.
Promoveram então a 1ª Ronda Gaúcha, que começou com o acendimento da Chama Crioula. Depois teve fandango (em volta do Fogo de chão com um churrasco no costado e umas quantas cambonas com água para o mate), concurso de trajes, palestras, atividades equestres e concursos literários.
Mas voltando à história da Chama Criola...
Como a maioria dos grandes eventos tem o fogo como símbolo de alma e espírito vivo, Paixão Cortes solicitou ao comando da Liga de Defesa Nacional, o Major Darcy Vignolli, que o deixasse retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria (no evento do dia 07 de setembro) para acender a Chama Crioula para as festividades da Ronda Gaúcha.
Próximo da meia noite do dia 07 de setembro de 1947, Paixão Cortes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente pilchados e montados em seus cavalos, aguardavam junto a Pira da Semana da Pátria.
Chegando o momento da extinção da chama, Paixão Cortes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa com querosene atada na ponta de um cabo de vassoura e assim acendeu a primeira Chama Crioula.
Dali os três cavaleiros partiram a galope até o colégio onde instalaram essa centelha do fogo dentro de um candeeiro bem campeiro e utilizou durante todas as festividades da Ronda Gaúcha, sendo apagada apenas no dia 20 de setembro.
Ao usar na Ronda Gaúcha o mesmo fogo das celebrações da pátria, criaram também um símbolo de união indissolúvel entre o Rio Grande do Sul e a Pátria Mãe, já que a mesma chama aquece o coração dos gaúchos e dos brasileiros.
A Ronda Gaúcha, posteriormente, começou a ser chamada de Ronda Crioula e é a precursora da Semana Farroupilha - oficializada somente 17 anos mais tarde, por meio da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
Foi assim então que surgiu esse grande evento! A Semana Farroupilha é muito mais do que tempo de reunir os amigos na praça, cantar o Hino e comemorar o feriado. É tempo de reflexão para os gaúchos que desejam entender de onde vieram e o que fazem para manter viva a sua tradição.